quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Diálogo Idiota

-Hey ( hey?? Mas serei eu ainda mais parvo do que pareço, hey é como dois camionistas se cumprimentam um ao outro quando já não se viam à 15 dias, hey é o que um idiota diz quando não tem mais nada para dizer, e é idiota o suficiente para pensar que dizer hey é mais “cool” que dizer “olá”).

-Como? (como, como o quê?? Sei lá que queria eu dizer, nada, esqueci-me, queria é que me facilitasses a vida e não fizesses perguntas difíceis, será que não repares que já me estou a atrapalhar todo, até os joelhos já me tremem).

- Não, é que, é que..estamos à já tanto tempo a ter esta formação juntos e ainda não tínhamos trocado uma palavra. ( Há tanto tempo? Que desgraça fui eu dizer, a formação começou anteontem à tarde).

- Isso não é bem verdade, ainda ontem me disseste até amanhã. (Bem, pelo menos lembra-se disso, mas agora é que não tenho mesmo o que dizer, vai pensar, aliás já está certa que sou um palhaço).

- Sim, pois.. claro, mas isso são palavras que não contam, quando se diz algo como “até amanhã” o som sai sem ser pensado, e antes de chegar ao ouvido desejado, já quem o disse virou costas sem esperar qualquer resposta. (Mas que me deu agora para tentar romantismos fáceis com as palavras, agora de certeza que me toma por um autista romântico ou, pior, por um presunçoso desesperado).

-Queres dizer algo de concreto com isso? (Sim caro leitor, a nossa heroína era, isso mesmo, qual palavra proibida e fechada numa caixa de Pandora por uma sociedade de meias palavras, objectiva. Claro que o cobarde de serviço, mas não menos protagonista da história, perdeu neste exacto momento qualquer capacidade sináptica relevante, pelo que me será impossível a partir de agora continuar a transcrever os seus idiotas pensamentos).

- Quero, quero dizer que é impossível olhar-te e ainda assim dizer algo que faça sentido no final.

-Não arranjas uma forma mais objectiva de dizer que o que queres, mesmo agora, e aliás já desejaste ontem e anteontem, é ir para a cama comigo?

-Isso é uma certeza absoluta para ti?

-Agora é sim, ainda podia pôr em dúvida jogares em outro campeonato, ou mais grave que isso, não me achares piada, mas depois de ver como tremias à uns instantes atrás, e aliás, ainda tremes um pouco, sim, agora é uma certeza absoluta.

-Bem, admitindo então que tal fosse verdade, isso implica que a nossa conversa fique por aqui? ( Aqui tenho que dizer, que apesar da capacidade sináptica do nosso cobarde se ter ido à muito, neste instante passou-lhe pelo pensamento uma ténue visão de sexo fácil, intenso e a curto prazo com ela, tendo até imaginando, além claro, do acto, os longos, e agora soltos, cabelos cor de fogo dela, a mancharem de cor uns quaisquer lençóis claros, e a taparem, parcialmente, e apenas com finos fios, os seus peitos nus).

- Não, quer dizer, apenas se tu assim quiseres que seja. Nós, tu, eu, todos nós, somos bárbaros animais com uns anos de vivência numa sociedade que nos maquilha, mas apenas isso, maquilha, pode mudar o que fazemos, como fazemos, e até aquilo que conseguimos, mas nunca o que intimamente sentimos e desejamos, um homem, e não falemos agora de excepções, quando vê uma mulher que define como atraente, a primeira coisa que pensa, não é em palavras bonitas ou em oferecer-lhe um jantar, mas sim, em sexo. Bem como uma mulher, quando se cruza com um homem que lhe desperta minimamente a atenção, o que logo faz, ainda que inconscientemente talvez, é averiguar se ele representa a melhor opção, dentro do leque de escolhas de que dispõem. É isto que nós somos, primatas camuflados por palavras bonitas e ramos de flores, por isso, e sim eu tenho a secreta convicção e arrogância que sou um ser um pouco superior à maioria que faz a multidão, podes dizer-me o que realmente pensas, que tal não irá antecipar ou adiar a hipotética hipótese de irmos para a cama um dia, pelo menos, farei um sincero esforço para que assim seja.

- Não sei se alguma vez vou sentir algo de sério por ti, certo é que de desejo apenas, ninguém vive, mas sobrevive-se, e até se ri um pouco e lá vai dando para procriar.Tomamos um café amanhã? (Neste momento a nossa heroína, com os olhos um pouco emocionados e até molhados, não muito, que recorde-se ela era objectiva, sussurrou ao ouvido do cobardolas “sim mas, eu quero viver”).