segunda-feira, 4 de julho de 2011

Amar na Idade Média

De todos os períodos da história, a idade média é provavelmente o mais injustiçado e desprezado, “dez séculos de trevas”, é como com desprezo lhe chamam. Mas a idade média somos nós por moldar, nós em uma passada hipótese de existir, uma hipótese antes de a luz ter iluminado o mundo, antes de a ciência nos seduzir, antes de se querer abolir o trágico. Tanto se fala da morte e da crueldade no tempo da idade média, do infortúnio dos que nela se conta que existiram, e tão pouco dos que nela se esquece que amaram.

Imagine-se por uma vez, um tempo em que se fantasiava com a morte, não com a vida, a vida não iludia, vivia-se, e vivia-se nos confins do mundo, em que tudo acabava no que os olhos viam, as cidades, as aldeias, as casas, as pessoas, a dor, a tragédia e o amor, eram o que eram, não o que os moldavam para ser. Nada se questionava, como se tudo fosse o que realmente fosse, as tragédias sucediam, como se desde sempre e para sempre, fosse sangue que respirássemos, e fosse apenas para amar que aqui estivéssemos. Ou para morrer a tentar, que o amor era eterno, e a morte apenas dor. E assim, quem amou na mais profunda tragédia e escuridão, iluminou-se sem que nunca lhe mostrassem qualquer luz, o mundo permanecia escuro, e eles, iluminados, foram-se, escapando à história, uma história que ilumina o mundo, mostra e deslumbra, mata, e depois narra.

2 comentários:

ANNUNCIATA disse...

E nós, que vivemos na época da luz, somos incapazes de aceitar um pouco da escuridão inerente à vida...e ao amor...

José Cevada disse...

Mesmo, vivemos na idade luz, mas pouco ou nada brilhamos de facto,